Ferramentas Low-Code: a simplificação da tecnologia como o segredo para a Transformação Digital

“Estamos a bordo de uma revolução tecnológica que transformará fundamentalmente a forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Em sua escala, alcance e complexidade, a transformação será diferente de qualquer coisa que o ser humano tenha experimentado antes” — Klaus Schwab.

by Mario Trentim

O anúncio feito por Klaus Schwab, em seu livro “A Quarta Revolução Industrial”, publicado em 2016, não poderia fazer mais jus à atual realidade. Se você tem dúvida, basta olhar para os seguintes fatos: dos unicórnios avaliados em mais de 10 bilhões de dólares, 77% são empresas de tecnologia. Muitos dos unicórnios que não são enquadrados como Tech também utilizam da tecnologia como core de seus negócios. E, claro, isso se estende às pessoas: das dez mais ricas do mundo – o que inclui nomes como Elon Musk e Jeff Bezos – 7 pertencem à tecnologia – e as demais a utilizam ao seu favor.

Não há como negar: a tecnologia habilita as pessoas a acessarem uma série de conhecimentos que, sem ela, seriam inatingíveis.

E é justamente por isso que, mais do que nunca, tem-se visto o movimento de empresas que desejam se inserir cada vez mais no digital. Negócios ao redor do globo que estão lutando por mudanças profundas em suas estruturas, por um crescimento sustentável que não apenas beneficie à companhia, mas gere impactos positivos na vida de seus colaboradores, clientes e, claro, sociedade como um todo. Em duas palavras: Transformação Digital.

De acordo com o artigo publicado pela Fundação Instituto de Administração (FIA), a Transformação Digital é o processo em que uma determinada empresa implementa uma mentalidade digital em todos os seus setores. A implementação de um mindset voltado ao digital é a chave para otimizar uma organização. Assim, é possível criar equipes enxutas, muito mais eficientes e produtivas. Para fazer desse objetivo uma realidade, é necessária a utilização de uma série de ferramentas que melhoram a performance das empresas por meio de soluções eficientes.

Dilemas da transformação digital

É fácil perceber que as empresas não ficarão obsoletas por falta de tecnologia. Elas ficarão obsoletas à medida que perderem competitividade para outras empresas que utilizam tecnologia a seu favor. Isto é, companhias que souberam administrar produtos e talentos dentro do contexto de Transformação Digital.

As grandes companhias sabem trabalhar com a tecnologia e produzem inovação constantemente. É isso o que as diferencia no mercado global e é exatamente por isso que elas crescem de maneira exponencial todos os anos – como bem mostrou a Best Global Brands.

Apesar da extensa demanda, há um problema nisso tudo: não existem desenvolvedores suficientes para suprir tamanha necessidade. Estima-se que, até 2024, serão necessários cerca de 420 mil profissionais de TI, enquanto o Brasil forma apenas 46 mil por ano.

Porém, por outro lado, talvez não seja tão necessário ter uma equipe gigante de desenvolvedores, todos altamente capacitados nas linguagens mais tradicionais, em companhias em que a tecnologia não é o produto final. Talvez seja possível uma organização utilizar ferramentas digitais de simples manuseio, mas com alto grau de resolução.

Ou então, um colaborador não precisa ser um expert em C#, Java ou Python para resolver problemas de baixa complexidade dentro da empresa, permitindo agilidade nos desafios e otimização do trabalho.

E é neste cenário que ferramentas Low Code surgem não apenas como uma recurso temporário, mas como uma das principais soluções para o desafio em questão.

Low-Code: a alternativa que democratiza o acesso à tecnologia

Quem diria que, um dia, cidadãos comuns, que não possuem conhecimentos profundos de tecnologia e programação, seriam capazes de criar soluções realmente eficientes para seus processos diários de uma forma objetiva e clara – e, melhor: sem depender de especialistas de TI? É isso que o Low-Code proporciona: acesso simplificado à tecnologia.

Low-Code são plataformas de “baixo código” ou “pouco código”. Isto é, você pode criar aplicativos, automatizar processos, disponibilizar relatórios e dashboards em tempo real – isso sem citar diversas outras possibilidades – sem que seja necessário um conhecimento profundo de linguagens de programação. Dessa forma, rotinas de trabalho podem ser automatizadas, o que libera a força de trabalho de colaboradores, otimizando o foco produtivo na estrutura operacional da companhia e estimulando a criação de produtos e serviços inovadores.

Esse recurso, além de desafogar os colaboradores de TI, auxilia os times a terem mais tempo para criar e desenvolver projetos mais eficientes e lucrativos para as companhias. Se você é gestor de uma companhia, a resposta para algum desafio na sua organização pode não precisar de um grande time de desenvolvimento para trabalhar em projetos longos e de alto custo.

Se você é funcionário e não é especializado em Tecnologia da Informação, talvez você não precise se tornar um expert em programação para oferecer soluções aos seus gestores, otimizando a rotina de trabalho e, mais do que tudo, valorizando o seu potencial dentro da companhia.

Mas como isso é possível?

As plataformas Low-Code possuem componentes – fazendo uma analogia, dá para comparar com “peças de LEGO” – que podem ser organizados e conectados para resolver problemas de negócios. Tratam-se de plataformas simples e intuitivas, como por exemplo Zapier, Pipefy Brasil, monday.com, OutSystems, Microsoft Power Platform, entre diversas outras.

Segundo o Gartner, até 2024, 65% de todo o software desenvolvido no mundo será baseado em plataformas Low-Code. Em valores, a consultoria estima que o mercado de Low-Code movimentou cerca de US$ 13,8 bilhões (R$ 72,67 bilhões) no mundo, em 2021.

Vale um adendo interessante aqui: plataformas como Wix.com e WordPress, amplamente difundidas em seus nichos, também podem ser consideradas Low-Code

As vantagens de utilizar plataformas Low-Code

Plataformas Low-Code trazem como principais vantagens a agilidade e a facilidade de desenvolver projetos de média e alta complexidade, para solucionar determinadas demandas, sem precisar tanto da tradicional programação. Isto é, essas ferramentas já disponibilizam elementos prontos para a construção de aplicativos mobile e desktop – as “peças de LEGO” que foram citadas anteriormente.

A tendência na utilização de ferramentas Low-Code facilita o desenvolvimento de aplicativos por pessoas sem expertise técnica. O resultado é pragmático: a aceleração do crescimento tecnológico e da inovação em grandes, médias e pequenas empresas, sem precisar de equipes de programadores altamente especializados — profissionais em falta no mercado mundial — para realizar demandas simples.

Um case interessante no mercado é a Zeev, uma empresa brasileira, com sedes em São Paulo e em Porto Alegre. A companhia oferece um poderoso software Low-Code que transforma fluxogramas em workflows automatizados. Assim, é possível ter em mãos o poder de criar aplicativos e desenvolver soluções de forma rápida.

Segundo a Zeev, uma empresa ganhará autonomia utilizando a ferramenta: “Por ser low-code, você ganha o superpoder de automatizar tarefas sem precisar entender de programação de software. Acreditamos que qualquer pessoa pode automatizar um processo, ou seja, criar um workflow”.

A empresa, atualmente, está em mais de seis países e em mais de 500 projetos com grandes corporações. Entre os clientes da Zeev estão a Movile, o Inmetro, Banco BMG, Sympla, entre outros.

No Banco BMG, por exemplo, muitos processos não possuíam uma estrutura clara ou um padrão para serem executados. Frequentemente as atividades ficavam perdidas dentro de alguns setores, sem que houvesse um responsável para executá-las. A solução para o problema foi implementar o Zeev Enterprise como ferramenta de gestão de processos de negócio.

Outro caso interessante de empresa especializada em low-code é a portuguesa Outsystems, pioneira no setor e atual líder de mercado no segmento, e que hoje está avaliada em aproximadamente 9,5 milhões de dólares.

A companhia oferece soluções com pouco código para a criação e a implementação de aplicativos, visando a evolução do negócio de seus parceiros. O suporte da empresa abrange uma grande área econômica, como organizações de saúde, finanças, governo, educação, seguros, entre outras.

Ao que tudo indica, plataformas Low-Code realmente vieram para duas coisas: para serem grandes protagonistas para todas as empresas que almejam passar por uma Transformação Digital que as leve para outro patamar. E provar que a máxima “você não será substituído pela tecnologia, será substituído por outros profissionais que utilizam a tecnologia em seu favor, tornando-se mais produtivos e eficientes nas suas profissões”, nunca foi tão verdade.

Este artigo foi produzido por Mario Trentim, General Manager da Staart e colunista da MIT Technology Review Brasil.