“As emoções mudam a forma como vemos o mundo e como interpretamos as ações dos outros. Não procuramos questionar por que estamos sentindo uma emoção específica; em vez disso, procuramos confirmá-la” — Paul Ekman
by Marcelle Paiva & Elisa Kozasa
Para decodificar as emoções, é importante começarmos com um conceito: o que é uma emoção? É importante notar que não existe um consenso, mas um dos maiores psicólogos do século XX, Paul Ekman, define que “uma emoção é um processo que é o resultado de uma avaliação automática, influenciada pelo nosso passado pessoal e evolutivo, no qual sentimos que algo importante para nosso bem-estar está ocorrendo e inclui mudanças fisiológicas e comportamentais”. Em outras palavras, as emoções estão sinalizando que algo importante para o nosso bem-estar (para o bem ou para o mal) está acontecendo. Elas podem salvar nossas vidas, motivar um comportamento, formar relacionamentos e surgem em resposta à satisfação ou impedimento das nossas necessidades básicas.
Algumas teorias foram surgindo para tentarmos compreender a experiência emocional. Na transição do século XIX para o XX, William James e Carl Lange, teorizaram que a experiência emocional subjetiva seria consequente às manifestações fisiológicas e comportamentais (ou seja, você sente-se alegre porque sorriu…). Contrariando James e Lange, Walter Cannon e Philip Bard entenderam que eventos estimulantes desencadeiam sentimentos e reações físicas que ocorrem ao mesmo tempo. Por exemplo, ver uma cobra pode provocar tanto a sensação de medo (uma resposta emocional) quanto um batimento cardíaco acelerado (uma reação física), sendo que o tálamo, uma estrutura para onde convergem vários sinais sensoriais, teria um papel crucial neste processamento.
Mais recentemente, Stanley Schachter e Jerome Singer, na década de 60 do século passado, afirmavam que a estimulação física desempenhava um papel fundamental nas emoções. No entanto, teria um efeito generalizado, ou seja, era a mesma para uma variedade de emoções, de modo que ela, por si só, não poderia ser responsável pelas respostas emocionais.
A teoria de dois fatores da emoção de Schachter-Singer foca na interação entre a estimulação física e como compreendemos cognitivamente essa estimulação. Sentir a estimulação não é suficiente; também devemos ser capazes de rotulá-la para sentir a emoção. Se de repente surge um cachorro no seu caminho e seu batimento cardíaco acelera e você já foi mordido por um no passado, você associa o estímulo com sua experiência e sente a emoção medo.
Cada vez mais se entende que nossas experiências emocionais, nosso “banco de dados” emocional, tem um grande papel em como interpretamos situações emocionais e como elas nos afetam.
Esse banco de dados é aberto, as informações são adicionadas a ele, constantemente, ao longo da nossa vida. Os eventos acontecem, são interpretados e armazenados. Não é um sistema que permite facilmente a remoção dos dados incorporados, uma vez que seu papel é permitir a sobrevivência e respostas geralmente rápidas.
No momento em que uma emoção começa, ela se apodera de você nos primeiros milésimos de segundo, comandando o que você sente, e talvez, até mesmo o que você pensa e a forma como age. Sem escolher fazer, você vira o volante automaticamente para evitar a colisão, pressiona o pedal do freio com o pé. Ao mesmo tempo, uma resposta emocional se instala, gerando a expressão de medo em seu rosto: sobrancelhas erguidas, olhos arregalados e boca tensionada. O coração começa a bater aceleradamente, você sente um frio na barriga. As emoções nos preparam para lidar com eventos importantes.
No campo da tecnologia, a concepção de algo que simula a inteligência humana, ou algo similar, tem sido motivo de discussão há muito tempo na história da humanidade também. A conceituação moderna surgiu em meados da década de 1920, após a descrição das redes neurais de McCulloch e Pitts — estruturas de raciocínio artificiais cujas bases eram modelos matemáticos que simulariam nosso sistema nervoso, porém ainda sem a tecnologia para as simulações. Porém, em 1950, Claude Shannon apresentou seu trabalho sobre como programar uma máquina para conseguir jogar xadrez, isso usando cálculos de posição simples. No mesmo ano, Alan Turing, desenvolveu uma maneira de analisar se um equipamento consegue se passar por um ser humano durante uma interação por escrito: o teste de Turing. Já em, 1956, durante uma uma conferência nos EUA, surgiram alguns eixos que conceituaram e passaram a nortear o campo de pesquisa da Inteligência Artificial (IA), nomes importantes, como Nathan Rochester e John McCarthy participaram e ali foi batizada a área de IA por McCarthy. Desde então, a IA tem se popularizado e desenvolvido até hoje.
De grosso modo, Inteligência Artificial, capacita as máquinas a “pensarem” como seres humanos de forma exponencialmente mais rápida, tomando decisões, e podemos dizer que o conceito de IA está relacionado à capacidade de soluções tecnológicas realizarem atividades de um modo considerado inteligente. Uma solução de IA envolve um agrupamento de várias tecnologias, como redes neurais artificiais, algoritmos, sistemas de aprendizado, entre outros que conseguem simular capacidades humanas ligadas à inteligência. Por exemplo, o raciocínio, a percepção de ambiente e a habilidade de análise para a tomada de decisão.
O “cérebro” dos computadores está dividido em três grandes pilares, para evoluir da automação simples, para a inteligência artificial, englobando processos cognitivos, que geram uma capacidade de aprendizado, sendo dividido em: modelo e volume de dados e o poder computacional. A IA também é um campo da ciência, cujo propósito é estudar, desenvolver máquinas para realizarem atividades humanas de maneira autônoma. Dessa forma, um sistema de Inteligência Artificial consegue realizar atividades não apenas repetitivas, numerosas e manuais, como também as que demandam análise e tomada de decisão.
Com o desenvolvimento da IA e da possibilidade dela se ocupar de boa parte das nossas funções humanas, não seria uma oportunidade de olharmos mais de perto para aquilo que até o momento ela não é capaz de se ocupar? Ou seja, que tal conhecermos nosso banco de dados emocional, ampliando nosso autoconhecimento, descobrindo o que realmente importa em nossas vidas e nos relacionarmos melhor com as outras pessoas, promovendo florescimento e bem-estar?
Nossas emoções produzem pensamentos, memórias, imagens e experiências que ficam armazenadas em nosso “banco de dados” emocional, ajudando a construir quem somos a cada etapa de nossas vidas. As emoções vão e vêm. Muitas vezes, por falta de um treinamento para desenvolvermos consciência sobre nossas emoções, acreditamos que elas raramente ocorrem, pois muitas vezes são sutis como uma irritabilidade, ou preocupação vagas. Mesmo sutis, elas podem mudar nossa forma de ver o mundo e de interpretar as ações das outras pessoas.
Como você costuma responder emocionalmente? Quais são seus gatilhos emocionais? Quais são as consequências de suas respostas emocionais? Com quais “códigos”, “programações” e conteúdos você tem alimentado seu “banco de dados emocional”? Estamos alimentando este banco com informações reais e consistentes ou com distorções da realidade? Você tem períodos longos de ruminação dos episódios emocionais, criando um looping emocional?
As emoções produzem mudanças no cérebro, assim como mudanças em nosso sistema nervoso autônomo, que regula o batimento cardíaco, a respiração, a transpiração e muitas outras alterações corporais, preparando-nos para diversas ações. As emoções também enviam sinais, mudanças nas expressões, na face, na voz e na postura corporal. Não escolhemos essas mudanças; elas simplesmente acontecem.
Apesar de nossas emoções nem sempre levarem a respostas construtivas, ninguém quer excluir suas emoções. Sem as nossas emoções, a vida seria tediosa, não seriam possíveis as conexões e perderíamos o que nos faz humanos. O que podemos fazer é conhecer mais sobre nós mesmos e como cultivar o equilíbrio emocional. Este cultivo pode nos levar a sermos seres humanos melhores e tomar melhores decisões pessoais e coletivas, afinal Aristóteles já dizia que qualquer um pode ficar com raiva, mas a dificuldade está em expressá-la para a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, com o propósito certo, e da maneira certa.