O adorável assistente domiciliar pode ser o robô doméstico mais avançado e invasivo que já vimos até então.
by MIT Technology Review
No final de setembro, a empresa Amazon anunciou que seu robô doméstico, Astro, receberá uma série de atualizações importantes focadas em torná-lo uma parte mais ativa de nossos lares e das nossas vidas.
Em linhas gerais, os novos recursos oferecem maior monitoramento residencial com algumas das funcionalidades já interpretadas como padrão no mercado: Astro conseguirá vigiar animais de estimação e enviar transmissões por vídeo de suas atividades para os usuários, por exemplo. Mas Astro também conseguirá percorrer a casa e monitorar cômodos e pontos de acesso.
“Isso começará com portas e janelas, para que Astro possa alertar você caso alguma tenha sido deixada acidentalmente aberta,” disse Ken Washington, vice-presidente da área de consumer robotics da Amazon, durante a apresentação de novos dispositivos e serviços da empresa.
A Amazon também anunciou uma nova colaboração entre Astro e o sistema de câmeras de segurança residencial da empresa Ring, chamado Virtual Security Guard, o qual protegeria áreas externas da casa contra possíveis invasões. A Amazon, que comprou a Ring em 2018, apresentou a colaboração como uma forma de proteger ainda mais as pequenas empresas e negócios contra arrombamentos, ao filmar intrusões e ligar para as autoridades (apesar de parecer que proprietários de imóveis também poderão usar essa funcionalidade).
A abordagem da Ring quanto à segurança não tem sido recebida sem discussões. Como minha colega Eileen Guo relatou no ano passado, a Ring divulga a si mesma como uma ferramenta para proteger sobreviventes de violência doméstica, no entanto, ao mesmo tempo, ela fornece acesso às suas vidas. A Ring também foi denunciada por traçar perfis raciais e por violações de privacidade. É compreensível questionar se a combinação da habilidade do Astro de patrulhar a casa junto ao já conhecido sistema de vigilância da Ring poderá criar questões ainda maiores para a segurança do que ambos os produtos já tinham separadamente, em suas versões anteriores.
A evolução do Astro como um vigia é notória. Astro foi lançado há quase um ano e, desde então, as resenhas do robô doméstico têm sido escassas. Isso porque potenciais clientes tinham que ser convidados para testar o robô (a Amazon oferecia o Astro por US$ 999 para os primeiros convidados, mas aumentou seu custo depois disso para US$ 1.450). O robô, com seus olhos grandes e estrutura parecida com o androide R2-D2, era inegavelmente adorável. Mas mesmo as resenhas desses usuários exclusivos eram divergentes. Muitos clientes acharam que Astro era incapaz de fazer muito mais do que carregar objetos entre cômodos. Ele também encontrava problemas ao mapear aposentos, e alguns usuários acharam um pouco assustador seu foco intenso em seguir alguém pela casa.
Mesmo assim, a apresentação do ano passado nos mostrou que Astro tornaria a vida domiciliar mais confortável e divertida. Ele seria uma espécie de assistente adorável e desajeitado. Neste ano, a Amazon reformulou a imagem do Astro como um dispositivo com uma missão muito mais séria: fornecer outro par de olhos para vigiar nossos animais de estimação, lares e rotinas. Assim como qualquer tecnologia de vigilância que trazemos para nossas vidas, usar o Astro exigirá um fator de confiança. Porém, dessa vez você estaria confiando em um robô capaz de se movimentar pela sua casa. Pode parecer uma pequena mudança, mas traz uma grande diferença não somente em como as pessoas enxergam e interagem com robôs domésticos, mas também em quão envolvida com as nossas vidas particulares a Amazon está. (Em uma declaração, a Amazon disse que o princípio da privacidade estava incluído no projeto do Astro: “Sabemos que a confiança do cliente é primordial, e é por conta disso que escolhemos a abordagem de privacy by-design desde o início do desenvolvimento do Astro.”)
No entanto, Maya Cakmak, professora-assistente na Universidade de Washington (EUA) e chefe do Laboratório de Robótica Centrada no Humano, diz que a compatibilidade do Astro junto a outras características do ecossistema de vigilância domiciliar da Amazon, Ring e Alexa, podem muito bem levá-lo ao sucesso. “Astro pode perfeitamente oferecer esses serviços,” diz Cakmak.
A Amazon não esconde seu objetivo: saber sobre tudo que puder do dia a dia de seus consumidores, sendo parte da visão da empresa fornecer um lar repleto de “inteligência ambiental.” Ken Washington, da Amazon, contou ao Wired que a empresa reconhece o fato de câmeras de segurança convencionais serem desconcertantes e intimidadoras. Mas segundo ele, Astro poderá ser diferente: “Se você tiver um robô móvel, ele pode ser o que une essas ideias para nossa visão de futuro”. Caso ganhe tração, é uma visão que fatidicamente mudará nossa relação com os espaços em que habitamos. Astro mantém um equilíbrio delicado entre ser os olhos que tudo veem da Ring e a prestatividade alegre da Alexa, possivelmente tornando-se o robô domiciliar mais avançado e invasivo que já vimos até então.