By VDI Associação de Engenheiros Brasil – Alemanha
A humanidade já passou por algumas revoluções industriais, que marcaram a mudança na forma com a qual as mercadorias eram produzidas. Ela evolui, justamente, a partir de soluções inovadoras. A Indústria 5.0 é a última fase de desenvolvimento que vai moldar a forma como as pessoas vivem e como a indústria se desenvolve.
Diferentemente de todas as demais eras da indústria, marcadas pela evolução das inovações, a transição da Indústria 4.0 para a Indústria 5.0 prevê a ressignificação do papel do ser humano em diferentes contextos.
A indústria 5.0 propõe uma mudança de paradigmas
De acordo com a Comissão Européia, a Indústria 5.0, ou Indústria do Futuro, nada mais é do que uma mudança de paradigma em relação à Indústria 4.0. É uma nova direção no progresso tecnológico. A questão central gira em torno de como as tecnologias podem se relacionar mais estreitamente com a sociedade e o meio ambiente.
A Comissão da UE identifica que a Indústria 4.0 gera um crescente distanciamento dos princípios de justiça social e sustentabilidade, enquanto foca na digitalização e Inteligência Artificial, que visam especialmente o aumento da eficiência e flexibilidade da produção.
A mudança de paradigma, de maneira bastante sucinta, é um par de opostos: centrado na tecnologia X centrado no ser humano.
Essa abordagem fornece uma visão da indústria que visa além da eficiência e produtividade como objetivos únicos e reforça o papel e a contribuição da indústria para a sociedade.
Coloca o bem-estar do trabalhador no centro do processo produtivo e a utilização das novas tecnologias para proporcionar prosperidade além do emprego e do crescimento, respeitando os limites produtivos do planeta.
Principais diferenças entre a Indústria 4.0 e a Indústria 5.0
Pode-se dizer que a Indústria 5.0 surge como um complemento à Indústria 4.0, ou seja, ela não veio para substituir, mas como uma evolução natural.
Mesmo assim, há diferenças importantes entre elas. A Indústria 4.0 tem uma grande proposta de conectividade, de manter a fábrica interconectada, usando mais informações e dados de insumos para máquinas inteligentes e equipamentos tecnológicos.
Agora, a tecnologia deixa de ser o foco principal e se torna um instrumento de benefício para o ser humano, que passa a ser visto como o centro de toda operação. Ou seja, na Indústria 5.0 o objetivo é utilizar toda a tecnologia desenvolvida pela Indústria 4.0 para beneficiar as pessoas.
Dentre as principais características da Indústria do Futuro podemos citar produtos interativos, hiper-customização, foco na experiência do cliente, Supply Chain responsivo e distribuído.
Outro ponto dessa nova transformação é que a teoria de que a Indústria 4.0 apresentava um risco para à sociedade, por conta da substituição da força de trabalho por máquinas, cai por terra, uma vez que a Indústria 5.0 tem como foco a interconectividade homem-máquina.
Dessa forma, é possível utilizar a alta capacidade das máquinas para manter os altos volumes de produção com uma qualidade superior, justificada pela colaboração de profissionais capacitados.
Indústria do Futuro traz benefícios às organizações, trabalhadores e sociedade
As indústrias podem desempenhar um papel ativo no fornecimento de soluções para os desafios da sociedade, como preservação de recursos, mudanças climáticas e estabilidade social.
Segundo o relatório da Publications Office of the European Union, essa abordagem da Indústria 5.0 traz benefícios para todas as camadas: indústria, trabalhadores e sociedade. Isso porque ela capacita os trabalhadores, bem como aborda as habilidades em evolução e as necessidades de treinamento dos funcionários, o que aumenta a competitividade da indústria e ajuda a atrair os melhores talentos.
Outro ponto positivo é que ela favorece os modelos de produção circulares e suporta tecnologias que tornam mais eficiente o uso dos recursos naturais. Por fim, essa revisão das cadeias de valores existentes e das práticas de consumo de energia elétrica e de recursos naturais também tornam as indústrias mais resistentes a choques externos, como a crise do Covid-19, por exemplo.
Quais são as prioridades da Indústria 5.0
A Indústria 5.0 contribui para três das prioridades da Comissão Europeia:
- Acordo ecológico europeu;
- Economia a serviço das pessoas;
- Europa preparada para a era digital.
Inclusive, os elementos relacionados ao futuro da indústria já fazem parte das principais iniciativas políticas da Comissão:
- Abordagem centrada no ser humano para tecnologias digitais, incluindo Inteligência Artificial e a proposta de regulamentação dela;
- Qualificação e requalificação dos trabalhadores europeus, especialmente competências digitais, com uma agenda de competências e plano de ação para a educação digital;
- Indústrias modernas, eficientes em termos de recursos e sustentáveis, e transição para uma economia circular (Green Deal), ou seja, uma indústria globalmente competitiva e líder mundial, acelerando o investimento em pesquisa e inovação como estratégia industrial.
Esses são apenas alguns exemplos que demonstram as fortes ligações entre a transição industrial e outros desenvolvimentos sociais.
Qual o papel das empresas na proteção do meio ambiente
Conforme já mencionado, a sustentabilidade é um dos pilares da Indústria 5.0, que visa a modelos de produção circulares e a mudanças para uso mais eficiente dos recursos naturais.
A importância de produções mais limpas já vem sendo discutida há alguns anos. Hoje, isso se torna, inclusive, um diferencial competitivo na decisão de compra do consumidor, especialmente para as novas gerações.
A sustentabilidade, no entanto, não deve se fazer presente apenas na imagem ou produto vendido ao consumidor. As indústrias, responsáveis por grande consumo de energia e emissão de gases, precisam ir além.
É preciso tornar toda a cadeia produtiva mais vantajosa, tanto para a sociedade, quanto para o meio ambiente. Portanto, quando se fala em sustentabilidade na Indústria 5.0 espera-se a implementação de fábricas mais inteligentes e eficientes, do insumo ao pós-consumo.
As indústrias precisam criar, de fato, um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a solução de importantes problemas sociais e ecológicos.