Descubra como a Fundação Rockefeller está transformando nosso entendimento sobre os alimentos, unindo sabedoria tradicional e avanços científicos com a Tabela Periódica da Iniciativa Alimentar (PTFI).
De menino curioso a cientista inovador
Desde menino, John de la Parra já demonstrava curiosidade pelas plantas na fazenda de sua família em Boaz, Alabama. Sua avó o ensinou sobre as propriedades medicinais das plantas. Assim, essa paixão pela ciência o levou a se tornar diretor da Iniciativa Alimentar da Fundação Rockefeller. A fundação, criada em 1913, investe bilhões para transformar nosso entendimento sobre alimentos.
A Tabela Periódica da Iniciativa Alimentar (PTFI) captura e analisa as propriedades bioquímicas dos alimentos. A partir disso, John de la Parra e sua equipe querem unir sabedoria ancestral e ciência moderna. Eles buscam descobrir o potencial medicinal e nutricional dos alimentos que consumimos diariamente.
Sabedoria tradicional e ciência moderna se encontram na PTFI
A ideia de que os alimentos possuem propriedades medicinais é antiga e enraizada em diversas culturas. No entanto, a ciência moderna apenas arranhou a superfície desse conhecimento. Sociedades tradicionais reverenciavam certos alimentos por suas propriedades curativas. Nesse sentido, a PTFI pretende explorar esses benefícios mais a fundo.
“Durante séculos, as sociedades tradicionais reverenciaram certos alimentos pelas suas propriedades medicinais e terapêuticas,” diz de la Parra. “Mas a comunidade científica apenas arranhou a superfície da compreensão da composição bioquímica e das propriedades daquilo que consumimos.”
A PTFI utiliza tecnologias avançadas como a espectrometria de massa e a inteligência artificial. Assim, eles revelam os segredos da antiga sabedoria alimentar e os validam cientificamente.
Descubra a bioquímica dos alimentos com a PTFI
A Tabela Periódica da Iniciativa Alimentar (PTFI) inclui um banco de dados de pesquisa. Ele captura propriedades bioquímicas conhecidas e desconhecidas dos alimentos, chamadas de “matéria escura”. Nesse sentido, Selena Ahmed, diretora global da PTFI, explica que menos de 1% das biomoléculas dos alimentos foram catalogadas pela ciência nutricional. Então, a maioria do que consumimos diariamente ainda é um mistério.
“Esses alimentos não apenas têm sido invisíveis para a ciência nutricional, mas estima-se que 95% das biomoléculas dos alimentos escaparam à nossa análise e não aparecem nos rótulos dos alimentos. Podemos pensar que sabemos o que estamos comendo, mas, na maior parte do tempo, temos compreensão limitada,” afirma Selena Ahmed.
Mais do que calorias e nutrientes
A PTFI quer revolucionar a forma como enxergamos os alimentos. Durante décadas, a visão reducionista predominou, simplificando os alimentos a calorias e nutrientes essenciais. Maya Rajasekharan, diretora geral para África da Aliança Internacional de Bioversidade e diretora de integração estratégica e envolvimento da PTFI, explica que essa abordagem está prestes a mudar. Portanto, a PTFI está trazendo uma nova perspectiva, analisando a diversidade bioquímica dos alimentos e suas implicações para a saúde humana e planetária.
Por exemplo, o MarkerLab, uma ferramenta online de visualização desenvolvida pela Verso Biosciences, permite que pesquisadores e o público explorem os dados da PTFI. Chi-Ming Chien, cofundador da Verso Biosciences, explica que a interface facilita a comparação de alimentos e compostos. Assim, novas descobertas científicas são impulsionadas.
Ademais, a PTFI valoriza o conhecimento ecológico tradicional. Além de coletar dados químicos, a iniciativa coleta metadados – informações adicionais que descrevem os alimentos, como métodos de cultivo, local de origem e significância cultural. Nesse sentido, Bruce German, presidente do Comitê Consultivo Científico da PTFI e diretor do Foods for Health Institute, da Universidade da Califórnia, em Davis, destaca a importância dessa abordagem holística:
“A agricultura é um dos principais contribuintes para as mudanças climáticas e de como manejamos o planeta… A única maneira de alinhar o passo necessário, é saber o que é o espaço da comida“
Centros de excelência da PTFI ao redor do mundo
Para garantir a inclusão cultural e geográfica, a PTFI estabeleceu nove Centros de Excelência em todos os principais continentes. Esses centros, localizados em países de baixo e médio rendimento, lideram a análise biomolecular e a tradução regional dos dados alimentares. Instituições como a Universidade de Adelaide na Austrália, a Universidade da Califórnia, Davis, e a Universidade de Ciência e Tecnologia Kwame Nkrumah, em Gana, estão na vanguarda dessa iniciativa.
Compreender a composição dos alimentos é fundamental para capacitar as partes interessadas em todo o sistema alimentar. A PTFI está destacando alimentos negligenciados, como as sementes de acácia do gênero Acacia, utilizadas pelos aborígenes australianos. Muitas dessas espécies estão ausentes dos bancos de dados alimentares globais. A PTFI levanta questões importantes sobre suas qualidades nutricionais e medicinais e seu papel nos ecossistemas.
O futuro da alimentação com a tabela periódica da iniciativa alimentar
As implicações do trabalho da PTFI são profundas. A iniciativa pode validar práticas tradicionais e abrir caminho para novas orientações dietéticas baseadas em evidências. Isso pode levar a soluções de saúde mais naturais, acessíveis e eficazes. Assim, promove-se uma alimentação sustentável que respeita a biodiversidade.
Bruce German destaca que a agricultura é um dos principais contribuintes para as mudanças climáticas. Ele acredita que a única maneira de alinhar o passo necessário é compreender completamente o que estamos consumindo. Então, a PTFI, ao combinar sabedoria tradicional com ciência moderna, está criando um sistema alimentar sustentável e resiliente.
“Cada um de nós possui uma herança genética que evoluiu em um local específico, comendo alimentos específicos. Conhecer a química desses alimentos pode nos permitir fazer recomendações de saúde mais precisas,” acrescenta de la Parra.
Uma nova era para a alimentação com a PTFI
A Tabela Periódica da Iniciativa Alimentar é mais do que um empreendimento científico. Ela é uma ponte entre o passado e o futuro. É uma fusão de sabedoria milenar com tecnologia de ponta. Então, à medida que a ciência explora e valida as propriedades medicinais dos alimentos tradicionais, novas possibilidades para a saúde, a sustentabilidade e o bem-estar global surgem. Este é o início de uma nova era na compreensão dos alimentos como medicamentos. É uma era que honra o passado e ao mesmo tempo abraça o futuro.
( fonte: bruna oliveira/ digital agro)