Um pouco de sombra pode ser útil para a produção de algumas culturas e a redução das emissões de carbono.
by MIT Technology Review
Em uma manhã fria e ensolarada de dezembro, Meg Caley podia ser encontrada no Jack’s Solar Garden mostrando aos visitantes um canteiro de couve. Como diretora-executiva da Sprout City Farms, Caley tem mais de uma década de experiência na agricultura em espaços urbanos improváveis em Denver, Estados Unidos. Atualmente, cerca de uma hora ao norte da cidade, ela trabalha ao lado de pesquisadores em um método agrícola experimental chamado agrovoltaico.
Também conhecido como agrivoltaico, agrisolar, agrofotovoltaica ou sistema solar de uso duplo é um método de baixa tecnologia. Em vez dos painéis solares serem instalados entre 45 a 91 centímetros do solo, como nas fazendas solares tradicionais, eles são significativamente elevados para acomodar os animais que pastam e permitir que mais luz solar alcance as plantas que crescem abaixo deles.
A técnica pode ser vantajosa tanto para a geração de energia quanto para a produção agrícola. Menos luz solar direta ajuda a manter as plantas mais frescas durante o dia, permitindo que elas retenham mais umidade e, assim, exijam menos rega. Ter plantas embaixo dos painéis solares também reduz a quantidade de calor refletida pelo solo, mantendo os painéis mais frios e mais eficientes. Os trabalhadores agrícolas que cuidam das plantações também se beneficiam das temperaturas mais baixas, assim como os animais que pastam.
Agrovoltaicos podem ajudar a reduzir o estresse térmico em vacas-leiteiras
A adoção em larga escala da prática poderia ajudar a reduzir as emissões de dióxido de carbono nos Estados Unidos em 330.000 toneladas por ano e gerar mais de 100.000 empregos rurais sem afetar muito o rendimento das colheitas. Um estudo de 2019 na revista Scientific Reports previu que as necessidades de energia do mundo poderiam ser atendidas por painéis solares se menos de 1% das terras cultivadas fossem convertidas em sistemas agrivoltaicos.
A combinação de agricultura e geração de energia traz diversos benefícios, diz Joshua Pearce, especialista em energia solar da Western University (UWO) em London, na província canadense de Ontário. “A energia solar e o aumento da eficiência no uso da terra valem dinheiro e aumentam a receita de um determinado hectare para o agricultor”, diz ele. “A comunidade local também se beneficia do acesso protegido a alimentos frescos e energia renovável”.
Mas os pesquisadores ainda estão descobrindo as melhores maneiras de implementar sistemas agrivoltaicos. Uma variável é a altura: no Jack’s Solar Garden, por exemplo, os cientistas estão fazendo experiências com painéis erguidos a 2 metros ou 2,5 metros do chão. Há também a questão de quais tipos de plantas respondem melhor à sombra adicional dos painéis solares.
Até que esses pontos sejam resolvidos, a agrovoltaica continuará sendo um experimento. “Os agricultores não costumam arriscar”, diz Allison Jackson, diretora de educação do Colorado Agrivoltaic Learning Center, que realiza passeios no Jack’s Solar Garden.
Também é algo caro. Embora a agrovoltaica possa economizar dinheiro dos agricultores em irrigação e eletricidade, ou fornecer uma fonte extra de dinheiro se eles venderem eletricidade para a rede, a instalação de painéis solares é um custo inicial significativo.
Apesar dos desafios, projetos agrovoltaicos estão sendo instalados em todo o mundo. Segundo o Fraunhofer Institute for Solar Energy Systems (ISE), em meio ao aumento de programas nacionais de financiamento no Japão, China, Coreia, França e nos Estados Unidos, a capacidade de produção de eletricidade de projetos agrivoltaicos cresceu de cerca de cinco megawatts em 2012 para mais de 14 gigawatts em 2021.
“Mais pesquisas são necessárias para expandir as práticas solares para este uso duplo”, diz Peter Perrault, diretor de economia circular da desenvolvedora de energia renovável Enel North America. “Mas já sabemos que as bases do projeto são viáveis”.